Vacina de Oxford: pesquisadores pedem sinal verde à Anvisa para testar pessoas acima de 69 anos; faixa etária é a mais afetada pelo novo coronavírus

Vacina de Oxford: pesquisadores pedem sinal verde à Anvisa para testar pessoas acima de 69 anos; faixa etária é a mais afetada pelo novo coronavírus

Por Edmilson Pereira - em 4 anos atrás 789

Pesquisadores à frente dos testes no Brasil da vacina contra o coronavírus Sars-CoV-2 desenvolvida pela Universidade de Oxford e o laboratório AstraZeneca estão otimistas. Eles esperam obter até o fim deste ano resultados que comprovem a eficácia do imunizante. Com isso, será possível pedir o licenciamento e dar início à produção, mesmo antes do encerramento dos testes em âmbito global, previsto para junho de 2021.

Jorge Moll Filho, fundador da Rede D’Or e responsável pelos testes no Rio de Janeiro e na Bahia, conta que os testes no Brasil, iniciados em junho, também se tornaram mais abrangentes. A próxima etapa da testagem vai incluir pessoas acima de 69 anos e sem limite superior de idade.

Os pesquisadores esperam para a próxima semana o sinal verde da Anvisa para começar o recrutamento nessa faixa etária. Esse grupo é o mais afetado pela Covid-19. Nele estão também os médicos mais experientes e que não deixaram a linha de frente.

Dos 5 mil voluntários que deveriam ser recrutados no Brasil, 3.800 já foram vacinados. As 1.200 vagas ainda abertas poderão ser preenchidas também por pessoas acima de 69 anos.

Todos os voluntários têm mais de 18 anos e atuam em profissões de alta exposição ao coronavírus. Além de profissionais de saúde, o grupo inclui policiais, guardas de presídios, motoristas de ônibus e de aplicativos, por exemplo.

A vacina é uma das seis no mundo em fase três, a etapa final de testes clínicos, e uma das mais promissoras entre as 231 em desenvolvimento. Em São Paulo, os testes estão a cargo da Unifesp.

Chamada de AZD1222, em alusão às iniciais do laboratório AstraZeneca, a vacina será testada em 50 mil pessoas no mundo. O acordo prevê a produção no Brasil, a cargo de Bio-Manguinhos/Fiocruz.

Já há 13 mil vacinados em Reino Unido, Brasil e África do Sul. Devem começar a participar em breve Estados Unidos e mais dois países, um da Ásia e outro da África. Há diferentes grupos sendo testados, incluindo um de pessoas com comorbidades (doenças preexistentes), aquelas que têm se mostrado as mais vulneráveis à Covid-19.

A cientista Sue Ann Costa Clemens, chefe do Instituto de Saúde Global da Universidade de Siena (Itália) e pesquisadora do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR), está confiante de que a aprovação virá em dezembro. O governo federal já encomendou 100 milhões de doses. Caso a vacina receba a aprovação, deverá ser produzido um lote inicial de 15 milhões de doses.

— Acredito que vamos provar a eficácia da vacina esse ano. Ficamos muito contentes com os resultados até agora — diz Sue Ann Clemens, principal investigadora dos estudos da Rede D’Or.

Os resultados aos quais ela se refere são a detecção a partir do 14° dia após a aplicação da vacina de uma resposta celular do sistema imunológico, coisa que nem toda vacina é capaz de promover. Além disso, 28 dias após a aplicação do imunizante foi identificado o surgimento de anticorpos neutralizantes, aqueles capazes de atacar o coronavírus.

— É importante ter as duas respostas, induzir imunidade celular e de anticorpos. Nem toda vacina induz imunidade celular e ficamos satisfeitos de ver uma forte resposta após 14 dias — observa ela.

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Os testes também mostraram que a vacina é segura e que duas doses produzem uma reação mais robusta das defesas do organismo. Isso fez os cientistas decidirem mudar o protocolo e passarem a prever uma segunda dose. No Brasil, todos os voluntários receberão duas doses. Porém, ainda não se sabe por quanto tempo se manterá a imunidade.

— O número de casos permanece muito grande e isso quer dizer que temos uma chance maior de provar a eficácia da vacina.

Jorge Moll Filho observa que, embora o crescimento de novos casos tenha desacelerado nos três estados onde a vacina está em estudo, o coronavírus continua a circular. Ele explica que, porém, agora se veem mais casos leves e moderados, a maioria dos quais não necessita internação.

Houve um decréscimo de pacientes graves e há uma incidência maior de jovens. Cresce o percentual de jovens infectados porque eles se expõem mais. No entanto, em geral, desenvolvem uma doença mais leve.

Pelo menos 70% de eficácia

Os cientistas esperam que a vacina ofereça, no mínimo, 70% de eficácia — a OMS considera 50% aceitável. Sue Ann Clemens explica que, por ser a Covid-19 uma doença nova, não se sabe o nível de anticorpos necessário para oferecer proteção. Por isso, a vacina é testada em pessoas com alta exposição ao vírus e, assim, maior probabilidade de se infectar.

Dessa forma, é possível ver o número de casos, calcular a incidência da doença, naquela e população e idade e, no fim, saber se o percentual almejado foi atingido.

Consultora da Fundação Bill e Melinda Gates, que apoia vacinas em todo o mundo, Sue Ann assegura que nunca viu uma vacina progredir tão depressa. Segundo ela, o apoio da Rede D’Or e da Fundação Lemann foi fundamental para que o projeto andasse com a celeridade que a pandemia exige.

Ela destaca que o Brasil é o único país com testes clínicos da vacina financiados pelo setor privado. Jorge Moll Filho salienta que a Rede D’Or planeja avançar na área de desenvolvimento de vacinas, e não apenas para a Covid-19:

— Queremos ganhar know-how em vacinas. Estamos interessados em crescer nessa área. Fomos escolhidos para desenvolver centros de treinamento em vacinação pela Fundação Bill e Melinda Gates — frisa ele.

Já a experiência conquistada no enfrentamento da pandemia pela rede vai se transformar num livro. Ele abordará desde tratamento à capacitação de profissionais, produção de equipamentos, uso de medicamentos e outros insumos, por exemplo.

— Chegamos a ter 2.000 pacientes internados, montamos hospitais de campanha, tínhamos reuniões diárias com dezenas de profissionais das mais diferentes áreas. Esperamos que o livro contribua com orientações de como proceder durante uma pandemia — diz Jorge Moll Filho.

Fonte: Paraíba Notícia e Agência o Globo