Terras raras: corrida global chega ao Brasil e traz dilema entre exportar e agregar valor com refino

Terras raras: corrida global chega ao Brasil e traz dilema entre exportar e agregar valor com refino

Por Edmilson Pereira - Em 2 horas atrás 42

Desde que veio a público o interesse dos Estados Unidos (EUA) em reservas de terras raras e minerais estratégicos no Brasil, em meados de 2025, o tema virou pauta obrigatória no País. Entre especialistas, é consenso a importância de “surfar a onda” e tirar o melhor proveito das reservas nacionais, mas a forma de como fazer isso segue em debate.

Hoje, o Brasil tem 12 lavras autorizadas e 186 em análise pelas autoridades, segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram). Também há 1.790 pesquisas minerais autorizadas para terras raras que podem revelar outros minerais e 348 pedidos em análise, ainda conforme o instituto.

A única companhia em operação no País é a Serra Verde Mineração, no município de Minaçu (GO), que iniciou a operação comercial em janeiro de 2024 e está em fase de ramp-up (aceleração gradual e planejada da operação). A expectativa é alcançar 5 mil toneladas anuais de óxidos de terras raras, usados na fabricação de ímãs permanentes de alta eficiência, necessários a motores de veículos elétricos e geradores de turbinas eólicas.

Além disso, dois empreendimentos com capital australiano, localizados na região de Poços de Caldas (MG), acabam de receber licença prévia e são os mais adiantados.

O Projeto Caldeira, da Meteoric, inaugurou neste mês uma planta-piloto para testes, destinada a validar o processo, gerar dados de operação e produzir amostras.

Com capacidade para processar 25 kg de argila iônica por hora, a planta reúne todas as etapas necessárias para transformar o minério extraído em carbonato misto de terras raras, incluindo lixiviação, remoção de impurezas, precipitação e filtração. O investimento foi de 1,5 milhão de dólares australianos (cerca de R$ 5,5 milhões), e a meta é produzir 455 kg de carbonato por ano.

A outra australiana na mesma região é a Viridis Mining & Minerals, responsável pelo Projeto Colossus, que se habilitou para receber financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), linha que dispõe de até R$ 5 bilhões. A empresa também recebeu carta de interesse de até US$ 100 milhões de uma agência de crédito à exportação do Canadá para apoiar a fase de execução do projeto.

Escolha

O avanço de projetos como o da Viridis ajuda a colocar em evidência um dilema recorrente da política mineral brasileira. Para alguns especialistas, o Brasil está, mais uma vez, diante da escolha entre exportar matéria-prima bruta ou processá-la internamente e oferecer material de maior valor agregado aos mercados internacionais.

Para outros, entretanto, a decisão deve se pautar nos caminhos hoje possíveis, não em vieses ideológicos, já que a tecnologia de refino das terras raras (grupo de 17 elementos químicos essenciais às tecnologias modernas) é dominada apenas pela China.

As sondagens dos americanos sobre o “tesouro” enterrado em território brasileiro têm como pano de fundo a necessidade desses elementos para viabilizar avanços tecnológicos, transição energética e dispositivos de defesa.

Antes de voltar os olhos para o Brasil, os EUA já haviam buscado entendimentos com a China, que mantém liderança folgada na exploração e no refino de terras raras.

A China responde por 70% da produção global e 85% da capacidade de refino, o que lhe garante enorme influência sobre indústrias de alta tecnologia, defesa, energia limpa e carros elétricos.

Fonte: Estadão

Foto: Foto: Divulgação/CBL