Nova telefonia no Brasil, 5G abre espaço para empregos do futuro e deve gerar 670 mil novas vagas até 2025

Nova telefonia no Brasil, 5G abre espaço para empregos do futuro e deve gerar 670 mil novas vagas até 2025

Por Edmilson Pereira - em 2 anos atrás 357

A chegada do 5G vai traçar um novo mapa de empregos no país e exigir novas habilidades profissionais no Brasil. Esse movimento já começou com a instalação das redes da quinta geração de telefonia — que começa a operar nas capitais no segundo semestre— e vai ganhar força nos próximos anos, impulsionando profissões que não existiam há pouco tempo.

É o que mostram estimativas da Conexis, que reúne empresas de telecom, e da Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom).

A expectativa é que cerca de 50 mil novos empregos formais sejam abertos neste ano somente nas empresas de telefonia, um aumento de 10% nos seus quadros. Considerando os investimentos de companhias de diversos setores relacionados ao 5G em diferentes aplicações da nova tecnologia, o número de vagas pode superar 670 mil até 2025.

O número de empregos pode ser ainda maior considerada a movimentação de empresas para contratar profissionais voltados para a inovação no universo de alta conectividade prometido pelo 5G, que já trabalham no desenvolvimento de produtos e serviços que ainda nem existem. Diferentes profissionais terão de desenvolver habilidades, como uma espécie de “raciocínio computacional”.

Insights’ e agilidade

Instituições como Fundação Getulio Vargas, PUC-Rio, ESPM e SoulCode Academy já desenvolvem especializações relacionadas ao 5G. Marcos Ferrari, presidente da Conexis, vê esses novos profissionais com aptidões transversais, como ter insights e raciocínio rápido para resolução de problemas em diferentes áreas e “desaprender e reaprender”:

— Pode parecer fácil, mas estamos habituados a aprender o que vemos e ouvimos. No 5G isso é preciso desaprender e reaprender muito rápido.

Especialistas e empresas destacam que temas como inteligência artificial, machine learning, dados (big data), banco de dados, algoritmos e internet das coisas (IoT, na sigla em inglês) farão parte do dia a dia de profissionais como médicos, advogados, arquitetos e publicitários, entre outros. Isso, dizem, será essencial para entender, desenvolver e vender os novos serviços e aplicações do 5G de forma atrativa.

— Esse profissional do futuro vai ter que ser um programador, lidar com robôs e sistemas de medição. A competência básica é saber lidar com dispositivos digitais. Todos vão ter que se inserir nessa área e desenvolver uma espécie de raciocínio computacional — define Sérgio Paulo Gallindo, presidente da Brasscom.

Raphael Carriço, gerente da divisão de Tecnologia da Michael Page, lembra que nem todas as novas posições são técnicas, como as de engenheiro de rede e de telecom, com salários entre R$ 5 mil e R$ 15 mil.

Ele cita o product owner, com salários de R$ 8 mil a R$ 12 mil, como uma dessas novas profissões. Trata-se de um especialista com visão geral sobre projetos de desenvolvimento tecnológico sem conhecimento técnico específico.

Outro caso é o gerente de conta, responsável pela estratégia de venda de inovações, com salários entre R$ 7 mil e R$ 15 mil e formação em marketing ou administração, por exemplo.

—O 5G vai precisar de um grande contingente que saiba vender e demonstrar como isso funciona — diz Carriço.

De olho no potencial dessa nova era, a engenheira Vanessa de Oliveira elegeu o 5G como um dos pilares de sua carreira. Em 2018, iniciou um mestrado na Universidade de Brasília em estratégias de implementação da infraestrutura 5G. Acabou colocando em prática os conhecimentos na Enel, empresa de energia que iniciou um projeto de redes inteligentes que serão viabilizadas pelo 5G.

— Quando decidi fazer mestrado na área, não foi fácil achar conteúdos. Ainda não há muitos grupos de trabalho no país, mas estão avançando. Na Enel, ajudei a trazer ideias e a criar casos de uso. Agora, estou indo para a área de inovação global da empresa — diz.

Ciber segurança em saúde

A Weg, fabricante de máquinas e motores elétricos, criou um laboratório de 5G numa de suas fábricas para testar soluções de conectividade em parceria com Qualcomm e Claro. Carlos Bastos Grillo, diretor de Negócios Digitais da Weg, crê que o 5G vai substituir Wi-Fi e cabos nas unidades fabris.

— Temos vagas. Queremos atrair engenheiros, além de desenvolvedores de hardware e software. Com o 5G, novos profissionais precisam estar aptos a aprender. O5G vai permitir mais robôs nas fábricas, maior volume de transmissão de dados e câmeras com visão computacional, permitindo novas aplicações de imagem. E isso tudo exigir novas habilidades — diz Grillo.

Na área médica, a rede MedRio Check Up também se move em direção ao 5G, já que a telemedicina é uma das áreas mais promissoras com internet ultraveloz. A empresa separou R$ 1 milhão para investir em tecnologia, com a compra de softwares e segurança digital. Segundo Gilberto Ururahy, diretor da MedRio, é um primeiro passo, mas o desafio está nos recursos humanos:

— A medicina vai ganhar mais velocidade, e a inteligência artificial será usada na análise de laudos e imagens. Mas tecnologia é ferramenta. Não posso me basear apenas em algoritmos. Esses novos médicos precisarão ter essa nova visão no dia a dia, entender o futuro da telemedicina, o pós-atendimento, a cibersegurança. É um novo profissional.

Empresas de telecomunicações ampliam contratações

Comprometidas com investimentos de quase R$ 40 bilhões nos próximos anos, as teles e seus fornecedores de equipamentos já contratam operários para a instalação de cabos e antenas para a quinta geração de telefonia móvel.

A promessa é de conexão até cem vezes mais veloz que o 4G atual. Também buscam profissionais qualificados para explorar as possibilidades abertas pela nova tecnologia.

A Copel, que arrematou licenças para levar 5G às regiões Sul e Norte, criou uma diretoria só para o tema, que terá 50 profissionais dedicados, diz Wendell Oliveira, presidente da empresa. Esse número vai crescer logo, diz ele. No radar, estão engenheiros de telecomunicações e sistemas, mas também profissionais de áreas diferentes como economia, administração e agronomia.

— Buscamos ainda profissionais que entendam de Amazônia porque vamos levar a rede para a região — diz Oliveira.

Na operação brasileira da chinesa Huawei, das 60 vagas abertas atualmente, 22 estão ligadas ao 5G. A maioria é para formados em engenharia de telecomunicações, elétrica e eletrônica. Para facilitar a busca, a empresa fez parcerias com 80 universidades para ajudar a formar profissionais:

—É preciso estar preparado para essa nova fase na tecnologia. São várias oportunidades. A pessoa precisa ser capaz de trabalhar com transformação e ter raciocínio rápido.

Na TIM, são 80 vagas só para as áreas ligadas à inovação, assim como 70 na Vivo. Para Giacomo Strazza, que comanda a área de desenvolvimento no RH da TIM, o 5G abre uma nova era no mercado de telecom e acelera a transformação digital da sociedade. Por isso, cibersegurança, cloud computing, edge computing e realidade virtual estão entre as habilidades procuradas.

— São novas competências que vão além dos profissionais de tecnologia. O profissional de marketing precisa saber como comunicar uma nova solução habilitada pelo 5G. O consultor de vendas tem que saber comercializar e utilizar a solução — diz Strazza. — Nas operadoras, o surgimento de novas verticais de negócio vem influenciando a busca por talentos e a capacitação das equipes internas.

Fonte: Paraíba Notícia e O Globo