Centrais sindicais discutem na próxima terça um calendário de protestos contra proposta de Reforma Administrativa proposta por Bolsonaro

Centrais sindicais discutem na próxima terça um calendário de protestos contra proposta de Reforma Administrativa proposta por Bolsonaro

Por Edmilson Pereira - em 4 anos atrás 905

Servidores públicos das três esferas de governo se articulam e prometem deflagrar uma greve nacional, como forma de pressionar o governo federal frente à ameaça de perdas para a categoria, previstas na proposta de reforma administrativa, como o fim da estabilidade para novas contratações e a redução de até 25% da jornada e dos vencimentos do funcionalismo, dispositivo que consta da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) Emergencial.

Os sucessivos adiamentos da apresentação da proposta de reforma administrativa pela equipe econômica é um dos reflexos dos alertas que têm sido dados ao Executivo por parlamentares que participam das negociações da categoria. O início da greve é uma das decisões que poderão ser tomadas, na próxima terça-feira, em Brasília, durante uma reunião plenária organizada por oito centrais sindicais. A articulação tem potencial de provocar instabilidade política, a exemplo do que ocorre nos países vizinhos ao Brasil.

Esta semana, a onda de protestos chegou à Colômbia, depois de Peru, Equador, Chile, Haiti e Honduras. Em Brasília, há um temor  de que eventuais manifestações de servidores públicos atraiam a adesão de outras categorias profissionais descontentes com a agenda liberal do ministro da Economia, Paulo Guedes, o que poderia agravar ainda mais o clima de tensão nas ruas.

O envio ao Congresso, pelo presidente Jair Bolsonaro, do Projeto de Lei que trata do excludente de ilicitude é outro reflexo da preocupação do Planalto. Embora o chefe do governo tenha relacionado a medida ao reforço ao combate à criminalidade, o projeto também estabelece normas aplicáveis aos militares em operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) e às várias forças de segurança.

Plenária

Nesta terça-feira (26), o Teatro dos Bancários de Brasília vai sediar a Plenária Nacional em Defesa dos Serviços Públicos Municipais, Estaduais e Federais, das Estatais, do Brasil e dos Trabalhadores. O encontro vai discutir as privatizações de estatais e as reformas no funcionalismo. A pauta de propostas a serem deliberadas no evento deve incluir uma articulação junto ao Congresso, manifestações públicas e a greve.

“Com toda certeza, acreditamos que sairemos da Plenária com a agenda de manifestações e com encaminhamentos para pressões no Congresso Nacional e para discussão com as bases. A possibilidade de greve também não está descartada. A Plenária que deliberará sobre isso, mas temos visto muitos servidores pedindo paralisação”, disse Sérgio Ronaldo da Silva, secretário-geral da Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef).

A Plenária em Brasília vai acontecer uma semana depois da reunião realizada no dia 18, na sede do Sindicato dos Químicos de São Paulo, entre lideranças de várias centrais sindicais brasileiras e políticos de partidos de oposição — PT, PSB, PCdoB, PDT, PSOL e Rede, com representantes dos trabalhadores do Chile e da Argentina. Segundo o site da CUT, o Encontro Emprego e Desenvolvimento debateu estratégias de enfrentamento ao neoliberalismo, que vem sendo implementado na América Latina.

Após um mês de rebeliões populares, Tamara Muños, diretora da Central Unitária de Trabalhadores (CUT-Chile), disse que “o país vive um momento de esperança na luta contra o neoliberalismo, que em sendo implementado há 30 desde o regime do general Augusto Pinochet e levou  população à miséria”. Por sua vez, Roberto Bradel, secretário de Relações Internacionais da Central dos Trabalhadores Argentinos (CTA), defendeu a união dos movimentos sociais e centrais sindicais em torno de uma agenda comum contra o que considera retrocessos impostos à classe trabalhadora.

Alertas 

A Frente Parlamentar Mista em Defesa do Serviço Público tem aconselhado o governo a não insistir em propor mudanças polêmicas no funcionalismo. “Eu falei francamente com o Wagner Lenhart (secretário de Gestão e Desempenho de Pessoas do Ministério da Economia): se o governo insistir com essas propostas, o país poderá ser tomado por uma convulsão social”, disse o deputado federal Professor Israel Batista (PV-DF), presidente da frente parlamentar.

Batista e outros trinta parlamentares, governistas e de oposição, participaram, no dia 12, de uma reunião na residência oficial do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). O encontro teve o objetivo de dar os retoques finais à Agenda para o Desenvolvimento Social, lançada na última terça-feira na Câmara como contraponto às reformas econômicas do governo federal. Na ocasião, os participantes também expressaram preocupação com o risco de o país ser tomado por uma onda de protestos.

“Esse foi um dos assuntos tratados na nossa reunião. Eu, por exemplo, destaquei que, quando a população percebe que o Estado não está preocupado com suas necessidades mais urgentes, ela acaba questionando a própria democracia e suas instituições. Isso é muito preocupante”, disse a deputada Tabata Amaral (PDT-SP), que coordenou a seleção dos projetos da agenda social, que inclui um reforço de R$ 9,8 bilhões para o Bolsa Família (1/3 do orçamento anual do programa) e ações para geração de emprego e renda.

Estados Unidos

A elevação da temperatura dos debates em torno da reforma administrativa chamou a atenção do governo dos Estados Unidos. No dia 30 de outubro, o diplomata americano Frank DeParis, responsável pelos temas da macroeconomia, foi recebido na sede do Fórum Permanente de Carreiras Típicas de Estado (Fonacate), em Brasília. A entidade representa cerca de 200 mil servidores, incluindo membros do Ministério Público, delegados da Polícia Federal, advogados públicos federais e auditores fiscais.

 O diplomata Frank DeParis queria entender melhor as críticas do Fórum à reforma administrativa e um relatório do Banco Mundial, que tem balizado o trabalho da equipe econômica. O representante americano agradeceu o encontro e solicitou a continuação do debate assim que o governo divulgar a PEC da reforma administrativa.

“O diplomata da embaixada dos Estados Unidos ouviu com muita atenção quando expressamos nosso repúdio às propostas do governo. Durante a conversa, foi discutido também o clima de instabilidade que se instalou na América Latina”, afirmou o presidente do Fonacate, Rudinei Marques.