Joe Biden é oficializado vencedor das eleições pelo Congresso, após um dos dias mais tensos da História americana recente

Joe Biden é oficializado vencedor das eleições pelo Congresso, após um dos dias mais tensos da História americana recente

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O Congresso dos Estados Unidos, em sessão conjunta no Capitólio na madrugada de quarta para quinta-feira, oficializou o democrata Joe Biden como vitorioso na eleição para presidente dos Estados Unidos, encerrando um dos dias mais tensos da História recente dos Estados Unidos. A sessão é a última etapa formal do processo eleitoral, e marca o fracasso de todas as manobras do presidente Donald Trump de mudar o resultado eleitoral. Biden teve os 306 votos que ganhou no Colégio Eleitoral confirmados, em comparação a 232 de Trump.

— O anúncio do resultado da votação pelo presidente do senado será considerado suficiente para a eleição do presidente e da vice-presidente — disse às 3h41 de Washington (5h41 de Brasília) o vice-presidente Mike Pence, que presidiu a sessão de modo protocolar, resistindo à pressão de Donald Trump. — A mesa declara a sessão conjunta concluída.

A sessão, inicialmente marcada para as 15h, foi interrompida após pouco mais de uma hora, conforme manifestantes defensores de Trump cercaram e invadiram o Capitólio, insuflados pelo presidente.

Ao voltar, às 22h, o clima era mais ameno. Alguns congressistas republicanos que pretendiam apresentar objeções ao resultado tiraram seus questionamentos, alegando repúdio aos episódios do dia. Outros mantiveram as contestações relativas a Michigan e Nevada, mas de modo simbólico, sem a assinatura de um senador, o que significa que a objeção não é posta para discussão e votação. Ainda assim, mais de 100 deputados e sete senadores republicanos se mantiveram fiéis às alegações infundadas de Trump nas duas votações, e a cerimônia, que geralmente dura menos de uma hora, se prolongou madrugada adentro.

A sessão foi retomada na avaliação da contestação ao resultado no Arizona, mesma altura em que tinha parado. Quando há uma objeção, cada casa se separa para debater o questionamento por até duas horas, e, em seguida, votar. O questionamento do Arizona foi rejeitado no Senado de maioria republicana por 93 votos contra e seis a favor. A Câmara dos Deputados, de maioria democrata, rejeitou a contestação por 303 votos contra e 121 a favor. A única contestação feita na madrugada assinada por um senador foi relativo ao resultado da Pensilvânia, apresentada por Josh Hawley, do Missouri. A alegação foi rejeitada em ambas as casas: 192 contra e 7 a favor no Senado e 282 contra a objeção e 138 a favor na Câmara. A discussão foi especialmente acalorada na Casa Baixa, prolongando-se por quase três horas.

Durante a sessão, alguns líderes republicanos que foram aliados de Donald Trump durante seus anos à frente da Casa Branca mudaram de comportamento e condenaram os manifestantes. O comportamento contrastou com o do presidente, que, ao longo do dia, emitiu mensagens simpáticas aos manifestantes. Mesmo quando gravou um vídeo os pedindo para irem para casa, Trump disse que “os amava” e eles eram “muito especiais”.

Na abertura da sessão, o vice-presidente Mike Pence, que presidia o encontro e sofreu severa pressão de Trump para, de modo inconstitucional, adulterar o resultado, fez um discurso de veemente condenação aos episódios de violência vistos mais cedo:

— Para aqueles que causaram estragos em nosso Congresso hoje: vocês não ganharam. A violência nunca vence. A liberdade vence. E esta ainda é a casa do povo — disse Pence. — Vamos voltar ao trabalho.

Um importante aliado de Trump, o presidente do Senado, o republicano Mitch McConnell, também fez um firme discurso condenando os invasores, classificando-os como “uma turba desenfreada”.

— Eles tentaram perturbar a nossa democracia e falharam — disse McConnell. — O comportamento criminoso nunca dominará o Congresso dos Estados Unidos.

Lindsey Graham, senador da Carolina do Sul que foi um dos maiores aliados do presidente e pretendia apresentar uma contestação, se afastou dele, retirou a contestação e reconheceu a vitória de Biden:

— Trump e eu tivemos uma tremenda jornada. Odeio terminar assim. Oh, meu Deus, odeio isso… Mas hoje, tudo que posso dizer é, “não conte comigo” . Já chega — afirmou.

Kelly Loeffler, senadora da Geórgia que foi derrotada ontem em sua tentativa de se reeleger, foi outra congressistas a retirar suas contestações, após a violência de quarta.

— Rezo para que os Estados Unidos nunca mais sofram outro dia sombrio como hoje— disse ela.

A sessão do Capitólio, que se repete a cada eleição presidencial, geralmente é rápida e meramente ritual. Neste ano, contudo, carregou-se de tensão, conforme todas as tentativas anteriores de Trump para reverter a derrota fracassaram.

Mais cedo, Pence já dissera que não ia se opor à oficialização da vitória de Biden, assim como McConnel.

O senador de Utah Mitt Romney, um dos maiores críticos de Trump no Partido Republicano, criticou os manifestantes e aqueles que questionam o resultado eleitoral, dizendo que “serão lembrados pelo seu papel neste episódio vergonhoso. Esse será o seu legado”.

O líder da minoria no Senado, Chuck Schumer — favorito para ser o próximo presidente do Senado, após o seu partido conqusitar a maioria — citou a frase famosa de Franklin D. Rooselvelt sobre Pearl Harbor e disse que o dia 6 de janeiro será lembrado como “um dia de infâmia”.

— Este templo da democracia foi profanado, suas janelas quebradas, nossos escritórios vandalizados — disse Schumer.

Em uma carta aos colegas horas após o cerco ao Capitólio, a presidente da Câmara, Nancy Pelosi, prometeu que a Câmara retornaria ainda na quarta-feira, dizendo “decidimos que devemos prosseguir hoje à noite no Capitólio assim que o salão estiver liberado para uso”.

Pelosi descreveu o ataque como “um ataque vergonhoso à nossa democracia, decidido no mais alto nível de governo. Não pode, no entanto, nos impedir de nossa responsabilidade de validar a eleição de Joe Biden”.

Uma multidão de apoiadores de Trump invadiu a sede do Congresso dos EUA na quarta-feira por volta das 14h15 (16h15 no horário de Brasília). Por algum tempo, senadores e deputados ficaram trancados em seus respectivos plenários. Imagens postadas nas redes sociais mostraram cenas de apoiadores brigando violentamente com a polícia enquanto pelo menos uma pessoa se dirigia à tribuna da Câmara para declarar seu apoio a Trump.

Uma mulher foi baleada no ombro e morreu após ser encaminhada ao hospital em estado grave. Ao menos 13 pessoas foram presas e cinco armas foram apreendidas.

Os episódios foram amplamente repudiados na classe política americana, inclusive no Partido Republicano, e há a expectativa de renúncias no governo nas próximas horas. Twitter, Facebook e Instagram também bloquearam as contas de Trump, em medidas inéditas.

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A agitação levou a prefeita de Washington, DC, Muriel Bowser, a declarar toque de recolher em toda a cidade a partir das 18h (20h no horário de Brasília), com duração até as 6h da manhã (8h em Brasília) de quinta-feira.

Os 1.100 soldados da Guarda Nacional do Distrito de Columbia foram acionados a pedido de Bowser, informou um oficial do Exército.

Fonte: Paraíba Notícia e o Globo