Historiadores olham para o passado para dizer como será o fim da pandemia da Covid-19

Historiadores olham para o passado para dizer como será o fim da pandemia da Covid-19

Por - em 4 anos atrás 1551

As dúvidas sobre quando a pandemia do novo coronavírus e o isolamento social irão acabar são cada vez mais presentes e inquietantes. Segundo historiadores, geralmente, as pandemias costumam ter dois finais: um definido pela própria Medicina, quando a incidência da doença cai e o número de mortes diminui. E outro social, marcado pelo momento em que, passado o pânico inicial, as pessoas se acalmam e aprendem a conviver com a enfermidade.

Segundo Allan Brandt, historiador de Harvard, alguns fatores serão determinantes para o fim da Covid-19:

— Como vimos durante o debate sobre a abertura da economia, muitas questões são determinadas não (apenas) por dados médicos e de saúde pública, mas sim pelos sociopolíticos — pontua.

Para muitos historiadores, um fim motivado por questões sociais acontece após as pessoas atingirem um nível tão avançado de exaustão, devido às restrições, que, por conta própria, declarariam a doença como “encerrada”, mesmo que o vírus continuasse atuando. E antes mesmo do surgimento de uma vacina ou de um tratamento eficaz.

— Esse tipo de problema psicológico social de cansaço e frustração existe — afirma Naomi Rogers, historiadora de Yale. — Podemos chegar a um momento em que as pessoas pensem: ‘Ok, já está suficiente. Mereço voltar à minha vida normal’.

E isso já está acontecendo nos EUA. Em alguns estados americanos, por exemplo, os governadores relaxaram as restrições, permitindo a reabertura de salões de beleza e academias, desobedecendo as advertências das autoridades de saúde pública de que tais ações são prematuras. À medida em que a catástrofe econômica causada pelos bloqueios cresce, mais e mais pessoas sentem-se prontas a simplesmente “dar um basta na situação”.

O desafio, disse Brandt, é que não haverá uma vitória repentina contra o vírus. Tentar definir o fim da pandemia “será um processo longo e difícil”.

A peste bubônica atingiu o mundo várias vezes nos últimos 2 mil anos, matando milhões de pessoas e alterando o curso da História. Cada epidemia ampliou o medo que veio com o próximo surto.

A doença é causada por bactérias que vivem em pulgas de ratos. Mas a peste bubônica, que ficou conhecida como Peste Negra, também pode ser transmitida de uma pessoa infectada para outra através de gotículas respiratórias, ou seja, não pode ser erradicada somente com o extermínio dos ratos.

Os historiadores descrevem três grandes ondas de peste, disse Mary Fissell, da Universidade Johns Hopkins: a Praga de Justiniano, no século XI; a epidemia medieval, no século XIV; e uma pandemia que ocorreu no final do século XIX e início do século XX.

A pandemia medieval começou em 1331 na China. A doença — e uma guerra civil que acontecia na época — matou metade da população do país. A partir daí, a praga passou por meio de rotas comerciais para a Europa, norte da África e Oriente Médio. Entre os anos de 1347 e 1351, matou ao menos um terço da população europeia. Metade da população de Siena, na Itália, morreu.

Essa pandemia terminou, mas a praga voltou. Um dos piores surtos começou na China em 1855 e espalhou-se pelo mundo, matando mais de 12 milhões somente na Índia. As autoridades de saúde de Mumbai, na Índia, queimaram bairros inteiros tentando livrá-los da praga.

Não está claro o que acabou com a peste bubônica. Alguns acadêmicos alegaram que o clima frio poderia ter matado as pulgas transmissoras de doenças, mas isso não teria interrompido a disseminação pela via respiratória, como observa Frank Snowden, historiador de Yale.

Ou talvez tenha sido uma mudança genética sofrida pelos ratos. No século XIX, a praga estava sendo carregada não por ratos pretos, mas por ratos marrons, que são mais fortes e mais propensos a viver separados dos seres humanos.

Outra hipótese é que a bactéria teria evoluído e se tornado menos mortal. Mas a praga nunca desapareceu completamente.

Entre as doenças que foram terminadas por questões médicas está a varíola. Um caso excepcional, por várias razões: a existência de uma vacina eficaz, capaz de oferecer proteção ao longo da vida; o vírus não tem hospedeiro animal, portanto, eliminar a doença em humanos significava sua total erradicação; e seus sintomas são tão incomuns que permite seu preciso diagnóstico, permitindo quarentenas eficazes e rastreamento de contatos.

O último registro de pessoa a contrair varíola naturalmente ocorreu em 1977. Era um homem africano que morreu anos depois de malária.

Influenzas esquecidas

Atualmente, a gripe de 1918 é utilizada como exemplo da devastação causada por uma pandemia e da importância do distanciamento social. Antes de ser extinta, a gripe matou de 50 a 100 milhões de pessoas em todo o mundo, de jovens a adultos de meia-idade. Após uma varredura mundial, ela desapareceu, evoluindo para uma variante da gripe, mais branda, que ocorre todos os anos.

Também foi um caso de pandemia que terminou socialmente. Quando a Primeira Guerra Mundial acabou, as pessoas estavam prontas para um novo começo, uma nova era e ansiosas para deixar para trás o pesadelo das doenças e da guerra. Até pouco, a gripe de 1918 tinha se mantido esquecida.

Outras pandemias de gripe se seguiram. Na gripe de Hong Kong de 1968, 1 milhão de pessoas morreu em todo o mundo, incluindo 100 mil nos EUA, principalmente maiores de 65 anos. Esse vírus ainda circula como uma gripe sazonal e seu caminho inicial de destruição — e o medo que a acompanhava raramente são lembrados.

Fonte: Paraíba Notícia e o Globo