Valter Nogueira

por Valter Nogueira - 4 anos atrás

Reino dividido

Parte do que foi tratado na tensa reunião entre Bolsonaro e seus ministros, vazou. E chegou à Imprensa, o que indica que, ao menos, um dos auxiliares insatisfeitos com o chefe deu com a língua nos dentes. Falo do encontro que antecedeu a primeira entrevista do ministro Luiz Henrique Mandetta (Saúde) no Palácio do Planalto, na última segunda-feira (30).

Antes do final da entrevista, ficou nítida a intenção do presidente Jair Bolsonaro de tentar ofuscar o brilho do ministro Henrique Mandetta, ao transferir para o Palácio do Planalto as coletivas de Imprensa do titular da pasta da Saúde. E tem mais, desde então Mandetta não fala mais sozinho.

Após ser contrariado pela posição técnica de Mandetta, o presidente Bolsonaro se apressou em convocar uma reunião para discutir o caso. Estava decidido a demitir o ministro da Saúde.

Efeito contrário

Pelo que vazou, Bolsonaro chegou entrando de “sola”, com a ideia fixa de acabar com o isolamento social, mas saiu da reunião botando fogo pelas ventas, pelo que escutou. Bolsonaro ouviu a dura, mas precisa resposta de um auxiliar autêntico, que não renuncia a suas convicções técnicas.

Indagou o ministro, na reunião:

“Estamos preparados para ver caminhões do exército conduzindo caixões, como ocorreu na Itália? Tudo acompanhado pela imprensa mundial?”

O Presidente teve que engolir em seco a própria arrogância; contra fatos, não há argumentos.

Contra-ataque

Todavia, como todo perdedor recalcitrante, Bolsonaro não se deu por vencido. Partiu para o contra-ataque. Decidiu diminuir a exposição de Mandetta na mídia.

O Presidente pode até demitir Mandetta, mas não tem poder para apagar a luz do ministro que, diga-se de passagem, já comprovou ser competente.

Destaque

Ao afirmar que, ante a pandemia do Covid-19, “as decisões devem ser técnicas e com planejamento”, o ministro Mandetta, de forma sutil, mas extremamente competente, desconstrói o discurso equivocada de um presidente que teima em seguir na contramão da história.

O ministro Mandetta se destaca no cenário nacional e mundial pela atuação racional – técnica – diante da atual crise de saúde pública.

 Ciúme

Diante da popularidade de Mandetta, o Presidente revela uma face ciumenta. A propósito, o ciúme doentio de Bolsonaro já havia sido revelado logo nos primeiros meses de seu governo, ano passado. À época, o alvo foi o ministro da Justiça, Sérgio Moro, que parecia brilhar mais que o chefe.

Na ocasião, pesquisas revelaram que a popularidade de Moro era superior à do presidente Bolsonaro. O chefe cogitou demiti-lo, mas foi demovido da ideia por auxiliares mais próximos. A demissão, sem motivo aparente, poderia ser ruim para a imagem do Governo, com respingos negativos na figura do Presidente.

Exposição

Mandetta aparece na mídia não por vaidade pessoal. É a situação do momento que exige a presença do Ministro da Saúde, seja ele quem for. Se fosse uma crise energética, por exemplo, a bola da vez seria, inevitavelmente, o ministro das Minas e Energia – qual o problema?

Apoio

De forma sensata, após a reunião, os ministros Sérgio Moro (Justiça) e Paulo Guedes (Economia) se uniram e decidiram apoiar o colega da Saúde. Se a intenção do presidente Bolsonaro era aniquilar Mandetta, o tiro saiu pela culatra.

O reino está dividido!