Valter Nogueira

por Valter Nogueira - 4 anos atrás

O papel da Imprensa

A rigor, só teme a imprensa quem tem algo a esconder. E, por conseguinte, quem esconde algo é porque tem culpa no cartório, como bem diz a sabedoria popular. Mais do que isso, é próprio da pessoa que comete erros tentar, a todo custo, transferir seus erros para terceiros. Encontrar um bode expiatório.

A Bíblia retrata bem esse tema em Gênesis, quando Adão se esconde de Deus após ter caído em tentação. Em seguida, tenta transferir a culpa para Eva, afirmando que ela o induziu a comer a maçã. Por sua vez, Eva diz que a culpa foi da cobra. Ou seja, tentam em vão, perante o Pai, justificar o injustificável.

Em meio à uma crise, seja ela qual for, é muito fácil acusar a imprensa e chamar a mídia de ‘sensacionalista’.  A mídia está tratando a atual crise de saúde pública com responsabilidade, inclusive, combatendo Fakes News.

Seria papel do jornalismo esconder a realidade? Penso que não! A realidade atual exige informação, atualização em tempo real – infelizmente! A propósito, esconder fatos e manipular números são práticas que ocorreram com mais frequência em regimes autoritários – de direita ou de esquerda.

A boa notícia será sempre destaque na mídia. Infelizmente, é ofuscada em tempos de crise. Ou seja, é divulgada, mas fica em segundo plano.

A imprensa precisa cumprir o seu papel na sociedade. Para tanto, é imprescindível que ela seja livre de interdições e censuras. Tudo isso, claro, dentro dos limites da lei, da Constituição, agindo com responsabilidade.

Notícia

Notícia é o relato de fatos e acontecimentos do dia a dia. O bom jornalismo recomenda mostrar os dois lados do fato a ser noticiado. Porém, por vezes, governos não respondem quando procurados em casos polêmicos. Agora, quando se trata de lançamento de um programa de governo, por exemplo, ocorre o contrário. Isto é, a imprensa é bem-vinda; quanto mais holofotes, melhor.

Dificuldade

É difícil priorizar a boa notícia quando a realidade mostra um governo – seja qual for – enfrentar uma crise de maneira errática ou agir de forma autoritária.

Exemplo

No final da década de 1980, a Polícia Militar, em quase todas as capitais do país, reprimiu com violência protestos de alunos secundaristas contra aumento na passagem de ônibus. Confiscou e quebrou máquinas fotográficas e câmeras de TV, como forma de evitar que o fato fosse noticiado com imagens.

O fato foi noticiado e revelou violência, mesmo com carência de imagens. À época, o governo rebateu a imprensa, taxando-a de “sensacionalista”. Mostrar estudantes agredidos, máquinas quebradas etc… é ser sensacionalista?

Crise atual

Trazendo a questão para os dias atuais, o governo Bolsonaro, e não a oposição, é quem cria problemas, o que dá margem à imprensa a divulgar notícias que, a priori, não deveriam existir em tempo de crise.

A crise atual é uma realidade, mas o governo tenta, sem sucesso, minimizar o problema. Bolsonaro cita frases infelizes, chegou a duvidar da estatística. É nítida a incapacidade do governo em lidar com a situação. Os números falam por si só.

Defesa: todos os veículos de comunicação conspiram contra o governo, até mesmo o Grupo Record, do bispo Edir Macedo, aliado de Bolsonaro. Para se tornar inimigo, basta publicar uma matéria que desagrade o Planalto.

Há algo de errado nesse comportamento. Ninguém pode apontar erros, o governo não aceita críticas.

Liderança

O presidente perdeu a oportunidade de se fortalecer, de mostrar liderança ante à crise de saúde pública. Da forma como se comporta, com todo respeito a quem pensa diferente, Bolsonaro age como oposição ao próprio governo. E na tentativa de transferir seus erros para terceiros, por vezes, bota a culpa na Imprensa.