Valter Nogueira

por Valter Nogueira - 3 anos atrás

Há 33 anos Exército divulgava editorial contra Bolsonaro

O que passo a descrever agora trata-se, apenas, de um fato histórico, pouco conhecido pelo povo brasileiro nos dias de hoje, mas que está registrado nos anais do Exército Brasileiro. Na condição de jornalista e repórter investigativo – que, por vezes, me atrevo na aventura – não poderia deixar passar a data em branco. Decidi não fazer juízo de valor, não por covardia, mas tão somente pela condição de repórter, ávido a noticiar apenas o fato ocorrido três décadas atrás.

Há exatos 33 anos, em 25 de fevereiro de 1988,  o Exército Brasileiro divulgava um editorial na capa do Noticiário do Exército intitulado “A verdade: um símbolo da honra militar”. Trata-se de um documento produzido no Quartel General do Exército, em Brasília, e publicado no veículo oficial da instituição militar (Noticiário do Exército).

O teor do documento pode ser traduzido como uma manifestação de desapreço contra o então capitão Jair Bolsonaro, na época com 32 anos. O editorial circulou por todas as unidades militares no território nacional.

O  texto, de 25 de fevereiro de 1988, diz que Bolsonaro e outro capitão “faltaram com a verdade e macularam a dignidade militar”. Cita conclusões de “Conselhos de Justificação” instaurados para investigar os dois militares depois que a revista Veja divulgou, em outubro de 1987, reportagem sobre um suposto plano de Bolsonaro para explodir bombas em unidades militares.

De acordo com a revista Veja, o plano de Bolsonaro era protestar contra os baixos salários dos militares e, assim, prejudicar o comando do então ministro do Exército, Leônidas Pires Gonçalves. Em ato contínuo à indisciplina, Bolsonaro, tido como mentor da trama, foi julgado culpado em primeira instância. Todavia, em junho de 1988, acabou absolvido das acusações pelo Superior Tribunal Militar (STM).

Há indícios, segundo relatos da época que circularam na caserna, de que houve um acordo de cavalheiros, como forma de tirar o Exército do foco do noticiário nacional e evitar manchar o nome da instituição. À época, o Brasil avançava com medidas de abertura, ponto inicial para o fim da ditadura militar. Por essa razão, Bolsonaro foi absolvido, mas deixou a farda.

Conclusão do Exército

A nota da instituição tem a seguinte conclusão: “O fato e tais circunstâncias tornaram os oficiais passíveis de serem considerados impedidos de continuar a pertencer aos quadros de nosso Exército, se assim forem julgados pelo STM. O Exército tem, tradicionalmente, utilizado todos os meios legais para extirpar de suas fileiras aqueles que, deliberada e comprovadamente, desmerecem a honra militar. A verdade é um símbolo da honra militar”, diz o editorial.

E diz mais: “Tornaram-se [Bolsonaro e seu colega], assim, estranhos ao meio em que vivem e sujeitos tanto à rejeição de seus pares como a serem considerados indignos para a carreira das armas. Na guerra, já plena de adversidades, não se pode admitir a desonra e a deslealdade que não do lado inimigo, jamais do lado amigo.”

O tempo e a política

O tempo passa e o capitão, antes visto como um mau militar, passou à condição de candidato da extrema direita à presidência da República, na eleição de 2018, com apoio dos oficiais-generais.

Cientistas políticos acreditam que os militares de alta patente  tenham se empenhado na eleição de Bolsonaro devido, entre outros fatores, ao descontentamento, entre os militares, com os governos do PT, sobretudo em função do relatório da Comissão da Verdade.

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