Valter Nogueira

por Valter Nogueira - 4 anos atrás

Dois pesos & duas medidas

O estado é laico, mas há consenso de que o Brasil é um país majoritariamente cristão. Por essa razão, invoco Provérbios 20 para indicar, por assim dizer, o que se deve levar em conta quando do confronto entre o certo e o errado, na questão de justiça. A palavra bíblica diz assim: “Dois pesos e duas medidas; pesos adulterados e medidas falsificadas são desonestidades abomináveis ao Senhor”.

O motivo do introito é para analisar o atual cenário nada republicano do Brasil, emoldurado por alegorias contraditórias.

Primeiro, aparece em cena um presidente da República visivelmente satisfeito com a operação da Polícia Federal deflagrada no Rio de Janeiro, na segunda-feira (25). Nesta houve busca e apreensão no Palácio do Governo Fluminense.  E, ao final, o presidente parabeniza a PF pela atuação.

De repente, tudo muda de lugar! Na quarta-feira (27), o chefe da Nação volta ao palco, mas, desta vez, com outra face: irritado com a ação da PF no caso das Fakes News, que atingiu correligionários e amigos próximos a ele.

Há uma máxima popular que diz: O que dá pra rir dá pra chorar! E nada melhor do que um dia atrás do outro. Isto é, se você ri quando uma pessoa tropeça e cai, não reclame se, no outro dia, alguém fizer o mesmo diante do seu tombo.

Operações

No caso do Rio de Janeiro, o presidente Jair Bolsonaro diz em alto e bom tom, que “haverá” outras operações do mesmo tipo enquanto ele for presidente. Já no segundo, reage de forma bem diferente, afirmando que não permitirá que tal ação aconteça novamente.

A pergunta é: no primeiro caso a PF pode agir; no segundo, não?

Agindo assim, com dois pesos e duas medidas, o presidente revela o seu lado infanto-egocêntrico, tipo menino mimado com síndrome de filho único.

É preciso lembrar ao chefe que ele é presidente, não rei. E que presidente em uma democracia tem poderes, mas estes não são ilimitados.

Fake News

A liberdade de expressão acaba no limite em que as palavras, imagens ou ações invadem a privacidade e a honra do outro, ou quando se presta à disseminação de notícias falsas.

Usar as redes sociais é direito de todo cidadão. Mas, nunca é demais lembrar que uma coisa é usar estes meios para expressar opiniões, outra coisa bem diferente é utilizar tais canais para atingir a honorabilidade de terceiros ou mesmo difundir mentiras.

É preciso separar o joio do trigo!

Interferência

O vídeo da reunião ministerial do dia 22 de abril torna-se desnecessário para comprovar a interferência do presidente na Polícia Federal; as declarações de Bolsonaro sobre as duas recentes operações da PF falam por si só.

Na primeira, o presidente afirma que “haverá” novas operações à semelhança da deflagrada no Rio.

– Como ele sabe? Ele está interferindo na PF?

Na segunda operação, ele declara com veemência que não permitirá mais coisa do tipo, e afirma: “acabou”.

– Como acabou? Ele vai interferir? Ele está dando ordens à PF?

A Polícia Federal tem autonomia para deflagrar operações quando há suspeita de ilícitos, fraudes etc. E isso independe da vontade do presidente de plantão.

Resumo da ópera

Ao que tudo indica, na visão do presidente, a PF serve para combater crimes de inimigos, mas não pode agir quando os criminosos são familiares e ou amigos.

Dois pesos e duas medidas!