Valter Nogueira

por Valter Nogueira - 4 anos atrás

As revelações de Moro

De forma ética e transparente, Sérgio Moro deixa o governo Bolsonaro de cabeça erguida – sai pela porta da frente. Sai de um governo que, diga-se de passagem, já dá os primeiros passos rumo ao campo da corrupção, ao se render à política do ‘toma lá, dá cá’, ao se aliar aos integrantes do denominado grupo “Centrão”.

Mas, algo grave foi revelado: o Governo tem que dar explicações sobre a fraude cometida, ao usar – sem consentimento – a assinatura de Moro no ato de demissão do diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo.

Moro diz não ter assinado tal documento, o qual foi publicado no Diário da União com a assinatura do ministro. Depois, o governo republicou o Ato, este último com a assinatura de Bolsonaro – houve crime de falsidade ideológica?

O ex-ministro da Justiça e Segurança Pública disse, na manhã desta sexta-feira (24), durante entrevista coletiva, que o presidente Jair Bolsonaro afirmou “mais de uma vez” que queria uma pessoa de seu “contato pessoal” em cargos de comando na Polícia Federal para poder “ligar” e “colher informações“ – é grave!

Caso ocorra interferência, tudo fica sob suspeita a partir de agora. A PF é um órgão de estado e não de governo. E, como tal, precisa de autonomia para agir.

Tem outra questão que chama atenção: a substituição dos superintendentes da PF nos estados do Rio de Janeiro e Pernambuco. No Rio, ocorre a investigação da morte da vereadora Marielle Franco; em Pernambuco, o caso dos candidatos ‘laranjas’ do ex-partido do presidente (PSL).

Contraponto

A reação do Planalto veio à tarde, com pronunciamento do presidente feito à Nação. Na verdade, o presidente fez arrodeio e, como já tinha sido antecipado pela Imprensa, o foco do discurso presidencial foi tentar desqualificar Moro.

O discurso revelou um presidente “bom moço”; homem probo, que renuncia a verba inerente à função de presidente etc. Mas, nesse devaneio, se perdeu pela boca ao revelar que “emprestou” dinheiro, algo em torno de R$ 40 mil, ao motorista Maurício Queiroz. O motorista pagou o empréstimo com cheques.

Queiroz

Queiroz é aquele que recebeu dinheiro do gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro, filho do presidente.  É, também, o mesmo que, coincidentemente, fez depósitos na conta da primeira dama Michelle Bolsonaro.

De acordo com o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, Maurício Queiroz recebeu mais de R$ 2 milhões, por meio de 483 depósitos feitos por 13 assessores ligados ao hoje senador Flávio Bolsonaro.

Há algo de estanho: recebia dinheiro do Gabinete de Flávio e depositava em conta de pessoas da família do Presidente? Por que tanto dinheiro depositado na conta de um motorista/assessor? E por que, com dinheiro na conta, Queiroz ainda pedia dinheiro emprestado ao presidente?

Informação

Outra afirmação feita por Bolsonaro pode pesar contra ele: disse que cansou de pedir ao ministro Moro informações para poder tomar decisões. Ora, esse não é o papel da Polícia Federal, mas sim da Agência Brasileira de Inteligência (Abin).

Cabe a Abin municiar o presidente sobre informações do país. As informações da PF dizem respeito a processos, os quais devem ocorrer em segredo. Então, o presidente queria, na verdade, as informações sigilosas da Polícia Federal.